Cine Metrópolis estreia sessões remotas de filmes
Um ciclo de exibições on-line com foco no cinema brasileiro contemporâneo e especial atenção às obras produzidas no Espírito Santo. Com essa premissa, tem início, nesta quinta-feira, 22, o Metrópolis Reconecta – projeto que vai exibir curtas, médias e longas-metragens semanalmente, seguidos de debates com diretores e convidados.
Realizado pelo Cine Metrópolis e promovido pela Secretaria de Cultura da Ufes, o evento traz em sua estreia a apresentação dos curtas capixabas Se você contar e Braços vazios, que serão apresentados a partir das 18h30 nas redes sociais do cinema (Youtube e Facebook).
As diretoras Roberta Fernandes e Daiana Rocha são as participantes do debate desta quinta, ao lado da pesquisadora e realizadora Luana Cabral. A equipe de programação do Cine Metrópolis vai realizar a mediação do debate, e o público terá participação ativa, enviando perguntas e comentários no chat.
Os filmes exibidos nas quintas-feiras ficarão no ar até a semana seguinte, quando será lançada a próxima sessão. O debate, que será gravado, também ficará disponível nos canais do Cine Metrópolis.
O secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, explica que o projeto tem por objetivo proporcionar diálogo com a comunidade cultural neste momento em que as sessões presenciais no cinema estão suspensas em decorrência do distanciamento social imposto como forma de prevenção ao novo coronavírus. “O Metrópolis mantém firme sua vocação de apontar sempre a favor do cinema brasileiro, contribuindo para o desenvolvimento, o fortalecimento e a difusão da produção audiovisual capixaba”, ressalta.
Se você contar
Neste curta de 2017, cinco mulheres contam relatos de violência sexual que sofreram na infância e na adolescência. Filme de estreia da capixaba Roberta Fernandes, em seus 29 minutos de duração, o documentário apresenta oito histórias de abuso, deixando o público na dúvida se as narrativas são pessoais ou de vítimas que não conseguiram se expor.
“Isso é um dispositivo que usamos para proteger algumas vítimas, mas pouco importa quem narra a história de quem. Algumas vítimas não quiseram participar das gravações porque não tinham contado a história sequer para a mãe ou o marido. São agressões que permanecem em segredo e deixam os responsáveis livres, enquanto as vítimas sofrem pela vida inteira. O filme é sobre todas as mulheres que sofreram ou ainda sofrem abuso sexual e como elas querem ser ouvidas pela sociedade”, relata a diretora.
Se você contar foi um dos nove curtas selecionados no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, mais importante evento desse segmento na América Latina.
Braços vazios
Resultado do trabalho de final do curso de Cinema e Audiovisual na Ufes, o curta de Daiana Rocha foi lançado em 2018 e conta a história de Vera, moradora de um bairro da periferia de uma grande capital e mãe de um adolescente de 16 anos, morto de maneira trágica. O trauma da perda do filho faz Vera se isolar dos amigos e familiares, até que ela encontra ajuda em um grupo de suporte a mulheres cujos filhos foram mortos de forma violenta.
A ideia do filme, de 16 minutos, surgiu após a notícia do assassinato de cinco jovens da comunidade de Costa Barros, no Rio de Janeiro. Eles tiveram o carro alvejado por mais de 50 tiros de fuzil, vindos de policiais militares. “Depois que li a notícia, isso ficou na minha cabeça. A partir daí, resolvi mudar o tema do meu projeto. Abordar o extermínio da juventude negra pelas mãos do Estado não é tão simples. Elaborar uma narrativa a partir do ponto de vista das mães que tiveram seus filhos assassinados foi um desafio”, lembra a diretora.
Braços vazios ganhou o prêmio de Melhor Filme pelo júri popular na 25ª edição do Festival de Cinema de Vitória.
Texto: Adriana Damasceno
Edição: Camila Fregona
Publicado em 21 de Outubro de 2020.
