Considerações sobre campanha de vacina e circulação de idosos

Por Professora Rita de Cássia Duarte Lima*

Em artigo, a professora questiona as estratégias de vacinação de idosos contra a gripe, retirando essa população de risco do isolamento necessário para evitar o contágio pela COVID-19, e faz propostas relacionadas com as políticas de Saúde da Família do SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS), a organização da rede de atenção a saúde, toma como estruturante a Atenção Básica, que tem sido responsável por varias ações, dentre elas as vacinas e organização das campanhas de prevenção à diversas doenças que preventivamente, podem ser evitadas. Nesse sentido, e diante da velocidade de expansão do Covid-19, a campanha de vacinação, popularmente conhecida como vacina para os idosos e outros grupos vulneráveis, foi corretamente antecipada para o dia 23/03/2020.

Como pesquisadora do SUS, particularmente no que diz respeito às políticas de saúde e à organização de serviços de saúde, gostaria de contribuir com o seguinte posicionamento: as autoridades sanitárias e a mídia têm reiterado a importância do isolamento social, advertindo e sensibilizando a população em geral sobre a necessidade real de se proteger, ficando em seu domicilio, resguardando-se da transmissibilidade, de adoecimentos e complicações, apontando para as dificuldades dos serviços de saúde, inclusive relacionadas às demandas de leitos em UTI em atender ao volume exponencial de pessoas, principalmente idosos que podem vir a necessitar de serviços mais especializados, se tal medida não for efetiva e contar com a responsabilidade e consciência de todos nós.

Assim, uma questão que se coloca a ser refletida é sobre a circulação de pessoas idosas, reconhecidamente com um grau maior de risco, e sobre a forma como os serviços nos municípios está se organizando para a campanha de vacina através de agendamentos conforme disponibilidade da unidade.

Seria mais de acordo com as orientações sanitárias que se usasse os critérios que há anos têm sido utilizados na organização da Atenção Básica na Estratégia Saúde da Família, particularmente no que diz respeito aos Territórios e Microáreas.

Estando incluída nos critérios estabelecidos para o primeiro grupo, idosos e/ou profissionais de saúde, ao realizar meu agendamento, não consegui fazê-lo na US [Unidade de Saúde] de referência do bairro onde moro (Jardim da Penha, Vitória-ES), e sim em outro bairro, na região de Maruípe.

Na contramão de tudo o que está orientado, precisarei sair do isolamento e circular até outro bairro, o que não seria um problema se o cenário atual não fosse o que se apresenta.

A realidade da maioria da população que vai buscar pela vacina é, provavelmente, de usuários de transporte público, que andam a pé e/ou utilizam aplicativos de transporte e, inevitavelmente, terão contato com diversas pessoas, aumentando assim a vulnerabilidade de um grupo que precisa evitar essa exposição, que é o das pessoas idosas. E como ficará o isolamento social? Preocupa-nos, exatamente, que a bem-vinda campanha de vacinação venha a contribuir com uma maior exposição das pessoas ao vírus caso não haja mudança no critério de agendamento.

A consideração posta é sobre a necessidade da revisão pelos serviços munici pais quanto ao processo de agendamento, atentando-se quanto os riscos dos deslocamento. Sugiro, como uma estratégia para se evitar possíveis deslocamentos, a vacinação em domicílio dos idosos. Espera-se que seja aplicado o já conhecido e bem consolidado critério utilizado na organização da saúde da família.

* Rita de Cássia Duarte Lima é professora do Departamento de Enfermagem da Ufes e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

Publicado em 26 de março de 2020.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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