Cuide da sua saúde mental em tempos de COVID-19

Mulher jovem com as mãos na cabeça e os olhos fechados

Por Professora Maria Carmen Viana*

Quando ocorrem surtos de doenças infecciosas, como a pandemia do Coronavirus (COVID-19), as autoridades podem exigir que o público tome medidas para limitar e controlar a propagação da doença, aplicando leis relacionadas à saúde pública. Essas medidas podem envolver o distanciamento social, a quarentena e o isolamento.

O distanciamento social é uma forma de impedir que as pessoas interajam de perto ou com frequência, para prevenir que haja disseminação de um agente infeccioso. Escolas e outros locais de encontro, como cinemas, bares, e restaurantes, podem ser fechados, e eventos esportivos, shows e serviços religiosos podem ser cancelados. No caso do COVID-19, o isolamento social se dá até que haja redução dos casos comunitários, sendo a sua duração imprevisível.

A quarentena separa e restringe o movimento de pessoas que foram expostas a um agente contagioso para observar se o adoecimento acontece. O período de quarentena deve ser o suficiente para garantir que a pessoa não contraiu a doença. O período de quarentena dos expostos ao COVID-19 é de uma semana se não houver sintomas ou de duas semanas, caso haja sintomas inespecíficos.

O isolamento previne a propagação de uma doença infecciosa separando as pessoas que estão doentes daquelas que não estão. A duração depende do tempo de contágio, que, por sua vez, dependerá do quadro clínico.

É comum que as pessoas se sintam preocupadas e ansiosas durante ocasiões de alarme público e insegurança, como esta que estamos vivendo, que envolvem riscos à saúde e integridade física das pessoas e incerteza sobre os próximos acontecimentos. É preciso observar sentimentos, pensamentos e comportamentos que podemos apresentar durante e após esses períodos de afastamento social.

Fique atento/a!

Todas as pessoas reagem de forma diferente do habitual a situações estressantes que envolvem mudanças drásticas da rotina.

As pessoas podem sentir ansiedade, preocupação ou medo relacionados a diversas situações ou cenários, como por exemplo:

  • Seu próprio estado de saúde

  • A necessidade de se monitorar, ou ser monitorado por outros, para identificar sinais e sintomas da doença

  • O estado de saúde de seus familiares e entes queridos, especialmente aqueles mais vulneráveis e a necessidade de monitorar os sinais e sintomas deles

  • O afastamento do trabalho e a perda potencial de renda, além da insegurança de manter o seu emprego

  • Os desafios de garantir coisas que você precisa para sobreviver durante o período de afastamento ou interrupção de serviços, como mantimentos, remédios e itens de cuidados pessoais

  • A preocupação em ser capaz de cuidar efetivamente de crianças ou outras pessoas sob a sua responsabilidade

  • A incerteza ou frustração sobre quanto tempo você precisará permanecer nesta situação, e incerteza sobre o futuro

  • Sentimentos de solidão pelo isolamento físico do mundo e de seus entes queridos

  • Sentimentos de raiva, se você achar que foi exposto à doença por causa da negligência dos outros ou das ações equivocadas de governantes ou gestores

  • Tédio e frustração porque você pode não ser capaz de trabalhar ou se envolver em atividades regulares do dia-a-dia

  • O adoecimento de pessoas queridas e, eventualmente, a perda dessas pessoas e luto

 

Entre as pessoas que já tiveram a infecção e/ou ficaram doentes, há ainda outras fontes de preocupação e estresse, como:

  • Se vai se recuperar, se vai ter um quadro grave, se vai ter sequelas, se vai morrer

  • Se infectou outras pessoas, especialmente familiares e entes queridos

  • O estado de saúde de pessoas que você pode ter exposto à doença

  • O ressentimento que seus amigos e familiares podem ter em relação a você, se precisarem entrar em quarentena como resultado do seu contato
     

Problemas de saúde mental

Algumas pessoas, especialmente as que têm ou já tiveram problemas de saúde mental, podem ter dificuldades mais intensas, às vezes com sinais e sintomas de piora ou recaída. É preciso ficarmos atentos quando nós (ou nossos entes queridos) apresentamos:

  • Desejo aumentado de usar álcool ou drogas para se acalmar e lidar com a situação

  • Sintomas de depressão, como sentimentos de desesperança, de desvalia, alterações do apetite, do sono e da libido, humor depressivo, labilidade emocional, etc.

  • Sintomas de ansiedade como taquicardia, aperto no peito, sensação de apreensão, preocupação excessiva, tremor, sudorese, insônia, pesadelos, pensamento acelerado e disperso, pensamentos reverberantes, sensação de catástrofe iminente, hipervigilância do funcionamento do seu corpo etc.

  • Crises de pânico, que são crises de ansiedade extrema

  • Pensamentos de morte e/ou desejo de morrer

Se você ou um ente querido experimentar qualquer uma dessas reações por tempo prolongado ou que causem sofrimento importante, busque ajuda imediatamente. Entre em contato com um médico psiquiatra ou seu provedor de saúde mental, se já tiver. Não é preciso esperar que a situação externa volte ao normal. Se ajude para ajudar o próximo!

 

O que fazer para se sentir melhor

  • Evite a exposição exacerbada à mídia e a informações catastróficas e repetidas sobre o COVID-19 e suas consequências

  • Tente relaxar e faça constantemente o exercício de acalmar a si próprio/a

  • Tente manter uma rotina equilibrada, alimente-se bem, durma em horários regulares e por tempo suficiente e evite o abuso de álcool e drogas,

  • Cuide regularmente de suas necessidades básicas de higiene e asseio e não interrompa nenhum tratamento médico ou medicação

  • Organize as tarefas domésticas para que o ambiente domiciliar esteja limpo e confortável

  • Faça atividades de que você goste, tipo ler, assistir a programas de TV, jogar jogos de internet ou de tabuleiro, ou qualquer atividade que seja prazerosa; alterne atividades individuais e em grupo, com as pessoas da sua casa, e alterne tarefas de trabalho com atividades de lazer

  • Faça coisas que podem lhe trazer bem-estar espiritual, como rezar, orar, meditar, ou qualquer outra que lhe faça sentido

  • Faça alguma atividade física dentro de casa (pular corda, polichinelos, exercícios de fortalecimento muscular, yoga, alongamento, o que você souber ou gostar)

  • Aproveite para resolver tarefas que estão em atraso ou para arrumar coisas que você gostaria, mas não tinha tempo

  • Se você vive com sua família ou outras pessoas, busque manter uma atmosfera cordial e de solidariedade e estabeleça regras de convívio coletivo

  • Mantenha-se informado/a sobre as medidas de proteção e de prevenção e os cuidados necessários caso haja infecção, e os ensine a seus entes queridos, especialmente às crianças e adolescentes

  • Mantenha o contato com seus amigos e familiares com quem você não tem contato físico, especialmente se você mora sozinho/a, e cultive a harmonia e a calma

  • Cultive a resiliência, focando em aspectos positivos do que vivemos e do que aprendemos em situações difíceis e de como podemos superar essa pandemia e suas vicissitudes e lembre-se de que o que estamos vivendo agora é passageiro

  • Cultive a empatia, levando em consideração as necessidades e dificuldades das pessoas à sua volta e da sua comunidade, especialmente aqueles que são mais vulneráveis ou que têm maior dificuldade de lidar com situações adversas.

* A professora Maria Carmen Viana é médica psiquiatra do Departamento de Medicina Social e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes

Foto: Mago Solar Branco/ Flickr/ CC
Publicado em 19/03/2020

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