A realidade da Enfermagem em tempos de COVID-19
Por Professora Magda Castro*
Diante da atual pandemia, a situação dos profissionais de saúde torna-se crítica em grande parte do território nacional. Contudo, vale considerar que a COVID-19 serviu para expor para toda sociedade a importância da Enfermagem como profissão que preza pelo cuidado humano.
No mês de maio deste ano, diferentemente de outros “maios”, a Enfermagem ganhou destaque no mês comemorativo desta profissão. No entanto, ressalta-se que tal visibilidade nos entristece, ao considerarmos que nosso país lidera o ranking no total de óbitos de profissionais da Enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares) que, conforme a atualização do Observatório da Enfermagem, realizada em 18/06/2020, às 06:37:00, já computava 208 mortes pela COVID-19, com grande concentração na região sudeste.
Frente a esse dado alarmante, constata-se que o Brasil, até então, é o país que mais perdeu trabalhadores da Enfermagem ao comparar com outras nações mundiais.
O fato é que há tempos, o cotidiano laboral da Enfermagem é marcado pela falta e/ou inadequação de condições seguras de trabalho e falta de recursos humanos e materiais para assistência e cuidado seguro.
O processo de trabalho muitas vezes é permeado por excessivas cargas mental, psíquica e física do trabalhador, conforme evidenciado nos estudos de Laurell e Noriega. Segundo esses pesquisadores, algumas cargas de trabalho são mais visíveis ao corpo do trabalhador externamente como as cargas físicas, enquanto as cargas psíquicas não apresentam materialidade visível externa ao corpo humano. Contudo, vale ressaltar que essas cargas se associam, se sobrepõem e se potencializam durante o trabalho da equipe de Enfermagem que se materializa no próprio ato de cuidar. Cuidar aqui está como verbo, por entendermos que cuidar imprime uma ação, uma atitude e um princípio da Enfermagem enquanto ciência e profissão.
Nesse contexto de pandemia, o cuidar está acompanhado, mais do que nunca, de forte carga emocional em que vida e morte se misturam a todo momento compondo um cenário desgastante, com imposição de ritmos excessivos, com jornadas laborais prolongadas e sobrecarga de trabalho impostas ao trabalhador da Enfermagem, acompanhada normalmente por uma remuneração nem sempre condizente com a natureza do trabalho realizado.
Desse modo, a pandemia trouxe à tona os desafios que há tempos essa profissão enfrenta. Não queremos apenas panelaço e/ou aplausos. A Enfermagem precisa de reconhecimento! Valorização! Respeito! Piso salarial adequado! Condições dignas e seguras de trabalho!
A rotina de trabalho da Enfermagem brasileira, com as Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) apresentando altas taxas de ocupação em grande parte do território nacional, acende e reacende o alerta de que os trabalhadores da saúde, especialmente os que estão na linha de frente ao combate à COVID-19, de tratamento, assistência e cuidado humano, precisam ter minimamente garantido o direito do uso seguro e adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que devem ser disponibilizados pelo empregador em quantidade suficiente e qualidade adequada.
Não podemos esquecer em tempo algum da importância de cuidar de quem cuida, dando visibilidade à Enfermagem com todo o respeito de que esta profissão necessita. Precisamos fazer valer a Constituição Federal que garante que a “saúde é direito de TODOS” e seguiremos na luta pela saúde pública de qualidade e pelo SUS, pois TODA vida vale a pena!
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* Magda Castro é Professora do Departamento de Enfermagem da Ufes e Enfermeira do Trabalho.
Publicado em 24 de Junho de 2020.
